Velha Guarda da Beija-Flor: Grandeza que Cala a Mediocridade!

Publico aqui um trecho da coluna de Hélio Ricardo Rainho do site SRZD, para deixar o meu repúdio ao ocorrido no prêmio Sambanet no último sábado, quando a velha guarda da Beija-Flor foi vaiada ao subir no palco para receber uma premiação. Chegamos ao cúmulo do absurdo, isso é coisa irracional de uma meia dúzia de torcedores que não aceitam a derrota e resolveram descontar em quem construiu a história da escola por causa de motivo A, B ou C. Minha escola do coração é a Viradouro e aceitei o rebaixamento numa boa. Opinei em meu twitter que o titulo da Beija foi justo - discordando apenas da pontuação. Não interessa se a escola exaltou ditador ou não, se recebeu dinheiro de fulano ou sicrano, não aceitar a vitória de uma co-irmã é uma coisa, agora desrespeito é outra coisa. Vamos acabar com essa hipocrisia, sambista não vaia sambista!

Velha Guarda da Beija-Flor: Grandeza que cala a mediocridade" - Por Hélio Ricardo Rainho


"(...) A notícia de uma Velha Guarda vaiada dentro de uma quadra! Num tradicional evento de premiação do samba com ingresso pago, onde pressupõe-se que, de fato, tenha ido somente gente que gosta de samba e entende de samba. Vaias para uma Velha Guarda!

Ora, ora, minha gente...a que ponto chegamos! Uma Velha Guarda vaiada num evento de samba! Chegamos ao auge do indecoro, do ultraje, da irracionalidade, do espúrio, do infortúnio!

Porque uma coisa é se indignar ou questionar um resultado de carnaval, um campeonato. Isso acontece desde os anos 30 do século passado, as rusgas são históricas. Mas a presença de uma Velha Guarda, que é um conselho régio e a representação formal de uma escola de samba, é algo digno de tanto respeito que eu jamais poderia imaginar tal tipo de agressão.

A minha escola de samba, eu não escondo de ninguém, é a gloriosa Portela. Pois foi lá que nasceu a primeira Velha Guarda, e dali saiu o exemplo que maravilhosamente rege todas as escolas: o tributo maior e o respeito a seus sacerdotes régios, seus baluartes. Que já eram dignos desse respeito em todas as coirmãs antes mesmo de se chamarem Velha Guarda a partir dos anos 70, lá em Oswaldo Cruz. Porque o samba sempre soube respeitar e preservar a sua ancestralidade, seus guardiões dos segredos, seus fundadores, seus fundamentadores. Tenho imenso respeito por todas, absolutamente todas, as Velhas Guardas do samba. Aprendi isso na Portela, convivi com isso também no Império Serrano toda a minha vida de sambista. Meu pai me falava isso; o bamba Jacyr que me levou para a Portela me ensinou isso; as canções de Clara Nunes, Roberto Ribeiro e Beth Carvalho que meus pais tocavam quando eu era menino me ensinaram isso. E agora? O que posso pensar?

Vaiar uma Velha Guarda é de uma descompostura execrável! É ato grotesco, chulo, autodepreciativo! Vergonha pros que vaiam, não pra quem é vaiado! Entrar num evento de samba, pagar um ingresso para lá estar e fazer esse tipo de confronto é muito mesquinho.

Nem mesmo a vaia a uma presidente da república, como aconteceu na Copa do Mundo, pode ser comparada a isso. Porque a presidente ali estava como representante de um povo, e mesmo sendo indecorosa, aquela vaia simbolizava o não-reconhecimento dessa representação. No caso de uma Velha Guarda, ela ali está não porque foi eleita, não porque esteja representando pessoas ou intenções protocolares; a Velha Guarda ali está porque representa um universo simbólico, um lastro cultural, um legado de conhecimento, uma entidade sociocultural que familiariza e congraça pessoas em torno da arte, da cultura e da vivência de um povo.

Vejo que essa situação é motivo para que hoje paremos e pensemos: que mensagem educativa temos dado todos nós, que hoje vivemos o samba e temos conhecimento do que é verdadeiro, para essas pessoas alienadas do meio? Que tipo de defesa, engajamento e militância exercemos diante de enredos espúrios a pessoas e coisas distantes de nossas tradições, que clamor levantamos pelo respeito às cores, às batidas, aos passistas, a todas as coisas genuínas que a escola de samba criou e, pouco a pouco, a lógica cartesiana dos desfiles esvaziou? Porque é esse descaso, essa perda de referência que, homeopaticamente, vai instituindo o desprezo aos nossos senhores de cabeça branca.

Não veremos a top model, o piloto de F1, o ex-BBB, o craque do futebol, a cantora de axé, o sertanejo ou o empresário serem vaiados na quadra! Veremos, pois, neste frívolo século XXI de tantos avanços tecnológicos decantado progresso, as vaias truculentas e insidiosas contra uma Velha Guarda dentro de uma quadra de escola de samba! Lugar que eles criaram, árvore cujas raízes eles cultivaram, seu solo sagrado, desacatados e desonrados em seu próprio quintal!

Mas não é assim não, Velha Guarda da Beija-Flor! Não há de ser nada, meus bambas queridos de Nilópolis! Não há de ser uma vaia pequena, um apupo descerebrado de um grupelho descabido a intimidar o poder e a legitimidade do que vocês são! Não há de ser um acinte que vai calar a arte genuína e a força dessa gente toda...Débora Rosa, Márcio Frigideira, Sebinho, Paulinho Sapury, Tuninho Januário, Marly Alvarenga, Célia Natalino, Wanderly de Oliveira, Neusa Célia, Alan Vinícius, Gisele Figueira, João da Paz, Celso Paduana, Odracir Sisi, Julio de Assis e quantos mais...eheh...oh, que lista maravilhosa, que nomes de pompa, que elite de respeito!

Eu bato palma, tiro chapéu, canto loas... salve, salve a Velha Guarda da Beija-Flor de Nilópolis!

E saibam, pois, que, na minha pequeneza, tudo que aqui tenho neste meu espaço e neste meu modesto cantinho de rabiscos irá sempre aplaudir, reconhecer, saudar e reverenciar não só esta Velha Guarda linda e vultosa da campeã do carnaval, mas TODAS as outras de igual expressão ou menor tamanho! Qualquer que seja! Porque enquanto eu me chamar Rainho, chamarei Velha Guarda de Rainha! E proclamarei seu reinado e afirmarei seu respeito no samba! Salve a Velha Guarda Show da Beija-Flor: um canto de grandezas que cala as vaias da mediocridade!"

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