Em Geral: Uma gigante que agoniza

Resultado de imagem para Greve na TupiNo último texto do ano queria e muito falar sobre uma coisa positiva, alegre, esperançosa. Mas não deu. Tantos assuntos vieram a mente para ser desenvolvidas nestas linhas, e no final das contas, optei por falar do rádio, ou melhor, do que está acontecendo com ele. Cá estou para esta complicada missão de escrever sobre a crise que assolou e ainda assombra este meio - principalmente em solo carioca - neste ano. Aos nossos olhos são emissoras demitindo em massa (recurso apelidado de "Passaralho"), enxugando gastos à força e até fechando as portas - um caso recente é a sucursal da Rádio Globo em Minas Gerais, que encerrou suas atividades. Esta lastimável situação que tem sido recorrente no Rio de Janeiro como em todo o país. A crise que passa o país há algum tempo dá nocautes diários no mercado radiofônico, e o principal símbolo desta tempestade grave que passa a "latinha" é a situação que passa a Super Rádio Tupi.

Resultado de imagem para Maracanã dos auditóriosFundada em 1930 por Assis Chateubriand (e minha cabeça me remete ao samba da Grande Rio que o homenageou, em 1999) a Tupi teve em seu casting histórico nomes como Ari Barroso - e sua famosa gaitinha -, Samuca, Júlio Louzada, Doalcei Bueno de Camargo, Afonso Soares, Colid Filho, Nena Martinez, Antônio Maria, José Cabral, entre outros. Para se ter dimensão da grande história que possui, a emissora chegou a ter Chico Anísio e Armando Nogueira como comentaristas no setor esportivo. Desde 2003 é a líder na preferência do rádio carioca (excluindo-se as rádios musicais), quebrando na época a hegemonia da Rádio Globo que durava três décadas. Hoje a Tupi conta com nomes como Haroldo de Andrade Jr, Washington Rodrigues, José Carlos Araújo, Fernando Sérgio, Clóvis Monteiro e outros mais. Entretanto, já diz o velho dito popular: "nem tudo são flores", por trás da alegria e do bom conteúdo da rádio líder de audiência no dial carioca existe um túnel obscuro, sombrio e sem saída. Os funcionários da emissora, tão empenhados e dedicados, não recebem salário há pelo menos pouco mais de um ano, e para se ter uma ideia do quão a coisa é séria, o 13° salário de 2015 ainda não foi pago. Não, o leitor não viu errado, o 13° de DOIS MIL E QUINZE. A princípio parecia ser uma situação reversível, só que, lamentavelmente, ficou apenas na aparência. Ajudado pela grave crise no estado do Rio, a coisa tomou proporções insustentáveis, nem mesmo a dispensa de mais de 100 profissionais durante o ano adiantou. A paciência dos funcionários chegou ao limite no último dia 8, quando resolveram cruzar os braços por vinte e quatro horas cobrando os salários atrasados e, até o momento que escrevo, os mesmos se encontram em greve pela segunda vez em duas semanas - desta vez, paralisação de dois dias. Além do mais, os processos trabalhistas contra os Diários já beiram os cinquenta.

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É muito deprimente a situação calamitosa que passa a Tupi. Fui ouvinte por sete anos e meio, lembro que comecei a ouvi-lá (não em definitivo) num Flamengo e Atlético-PR em 2008, na época a equipe esportiva tinha Luiz Penido, Jorge Nunes, Jota Santiago, entre outros, cresci ouvindo eles e algum tempo depois fui descobrindo cada programa e desde então nunca troquei de rádio. Continuei a ouvi-la até saber que haviam demitido o Eugênio Leal e o Sérgio Américo, profissionais que ganharam meu respeito e admiração no meu começo de juventude, além de nomes consagrados no meio radiofônico como Coelho Lima, Pedro Costa e Divaldo Silva, por exemplo. A situação é trágica, e estava muito na cara que os funcionários perderiam a paciência com tamanha enrolação e cruzariam os braços pedindo o salário que tem direito, e a coisa só não avacalhou de vez pois vemos ali muito mais que grevistas, vemos profissionais que não abandonaram o barco pois são apaixonadas pelo que fazem, e esta paixão pela profissão, coisa que nenhum dinheiro paga, mantém a Super Tupi no ar, ainda que aos trancos e barrancos. Pra piorar, os ouvintes só souberam da situação quando a coisa se agravou. 

Mas e aí, quem são os culpados? 

Vejo muito "entendido" que coloca política no meio para justificar a crise na emissora, dizendo que "está assim porque é a rádio do governo do estado", "apoiou o golpe" e similares, comentários motivados pela constante presença de secretários e presidentes de companhias estaduais em debates da emissora - algo que considero injustificável e antiético. Entretanto, julgo que uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra, a calamitosa situação que a Tupi se encontra é fruto de uma covarde, incompetente e criminosa direção dos Diários Associados que sequer tem coragem de botar a cara e dar uma satisfação, o máximo que conseguem dizer é que não há dinheiro e não tem perspectiva para ter, todavia, há relatos de que seus diretores ostentam dos mais variados luxos. Algo muito surreal se a info for verídica. No entanto, cabe a esta diretoria parar pra pensar que está sucateando a emissora dia após dia, e a saída viável é se livrar da Tupi, tal qual o grupo fez com algumas rádios este ano. Aliás, o principal pedido dos grevistas é a venda da emissora. Inclusive, já circulam boatos de uma possível venda da Tupi para o Grupo Mundial de Comunicações, dona de emissoras como a Rádio Bradesco Esportes de São Paulo e Top TV. De fato, não há mais condições para os Diários Associados continuarem controlando a emissora, diante dos atrasos e inúmeros processos trabalhistas. Inclusive, tenho convicção que se Chatô pudesse descer do céu, daria uns tapas nos atuais gestores dos Diários, entretanto, ele só pode ser revirar no túmulo de tanta consternação. Só resta agora lamentar que uma história de 81 anos está sendo jogada no lixo por mera incompetência e torcer para que todos os funcionários saiam desta situação o quanto antes.

Se ainda houver forças, salvem a história da Tupi. Em nome do rádio brasileiro.





[N.do.E. Na última semana, os funcionários da Tupi decidiram em assembleia fazer mais uma greve, desta vez por tempo indeterminado. A nova paralisação se inicia amanhã, dia 30.]

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