Em Geral: Os Sambas da Série A para 2016

O CD com os sambas-enredo da Série A (equivalente a segunda divisão do carnaval do RJ) está próximo de ser lançado (será no próximo dia 11) mas a LIERJ, entidade que organiza o carnaval do grupo, já disponibilizou o álbum completo em aplicativos como iTunes, Google Play, Spotify, UOL Deezer, entre outros. E com isso, resolvi avaliar os 14 sambas que compõem o disco. Para realizá-la, usei o sistema feito pelo Sambario - site que sou fã confesso. Podem concordar ou discordar a vontade. Só lembrando que esta avaliação é feita com base nas gravações do CD e nada refletem no rendimento que terão no ano que vem.



A GRAVAÇÃO: Depois de anos a produção do CD da Série A mudou de mãos, saiu Leonardo Bessa (com o excelente álbum de 2015, rendendo o disco de ouro) e entrou Ivo Meirelles, que já havia produzido o disco para o mesmo grupo em 2009, na época da finada LESGA. Para 2016, Ivo optou, além do seu conhecido formato de gravação ao vivo, em trazer em cada faixa do CD o estilo de cada escola, uma ideia excelente, diga-se de passagem. No entanto, o resultado final ficou muito abaixo do esperado, o que foi prato cheio para a rejeição e críticas dos amantes de carnaval antes mesmo do disco chegar as lojas - rendendo, inclusive, um desabafo do produtor nas redes sociais. Na minha opinião, a qualidade foi de média para ruim, só não ficou péssimo porque as baterias foram excelentemente gravadas, além de alguns sambas serem bem gravados (como Alegria, Caprichosos e Rocinha, por exemplo). Outros mereciam algo mais, e numa pequena exceção, ficaram nítidos as falhas de mixagem (como na Porto da Pedra). Ivo é um bom produtor, mas os erros na gravação foram evidentes. Um ponto positivo foi o grito de guerra das baterias no fim das faixas e os gritos dos intérpretes no meio do samba. Sobre a safra, se sobressaem as obras de Viradouro e Renascer. Esperava muito mais do disco, porém, não ficou aquela "porcaria" que muitos acharam. - NOTA: 8.8

1 - UNIDOS DE PADRE MIGUEL: Embalada pelo vice-campeonato do carnaval passado, a Unidos traz um samba correto e bem-humorado para falar das "farras" do Brasil desde o período colonial, com versos um tanto que cômicos como "Somos a terra dos esfarrapados/Igual ao índio nos deixaram pelados""Negão veio de lá, da África pra cá/Se ele soubesse pulava no mar", "Mamaram nas tetas das Minas Gerais", "A farra do quinto tirou nosso couro" e "Avisa na corte, a zorra é aqui". Destaque para o retorno ao carnaval de Luizinho Andanças, contratado as pressas pela escola após a saída de Marquinho Art'Samba, que faz uma correta interpretação. - NOTA: 9.7 (Letra)

2 - IMPÉRIO SERRANO: Para homenagear Silas de Oliveira, um dos maiores compositores da escola (e autor do clássico Aquarela Brasileira) a Serrinha apostou num samba dolente, de melodia forte mas com uma letra que, apesar de retratar bem o enredo, tem algumas incógnitas. A primeira parte é confusa no ponto de vista melódico, o refrão central é bom, mas a segunda parte é divinal. O trecho "Tinha samba na rua/Veio o bloco da lua/Era carnaval/Foi com prazer que eu desci a serrinha/Numa noite dourada, num sonho real/Estava nascendo o Império Serrano/Reizinho do meu lugar/Pro santo guerreiro abençoar" foi um acerto e tanto na obra. O refrão principal é uma convocação ao imperiano voltar ao lugar que merece, já que a escola anda mal das pernas nos últimos anos, recuperando-se em 2015. Pixulé, estreante em Madureira, faz uma ótima interpretação, apesar de uma voz macabra fazer um dueto com ele a partir do trecho "Quando parti/De longe eu vi mudar" - consta que Silas de Oliveira "baixou" naquele momento. E um ponto negativo da faixa é os agogôs (característicos da escola) estarem muito abaixo do normal. - NOTA: 9.8 (Letra)

3 - VIRADOURO: O clementiano Eugênio Leal já diria: é sempre difícil escrever sobre a própria escola. E tem razão. Sou torcedor fanático da Viradouro (chegando a desfilar na escola no último carnaval) mas isso vamos deixar pra depois. Quanto ao samba, é uma verdadeira obra-prima - e não falo isso porque é o samba da minha escola. Letra e melodia casam perfeitamente com o enredo, baseado na peça do cantor Altay Veloso. A letra é de uma felicidade tamanha, principalmente no trecho "Oh meu Brasil, cuidado com a intolerância/Tu és a pátria da esperança/A luz do Cruzeiro do Sul" que é um verdadeiro tapa na cara dos preconceituosos nessa era de discriminação que vivemos. Zé Paulo nos brinda com mais uma excelente atuação, somada a uma ótima atuação da bateria, agora comandada pelo experiente Paulinho, mas, infelizmente, a gravação ficou muito abaixo do que se esperava, uma pena. Por fim, mais um sambaço para o hall das grandes obras da vermelho e branco, repito: SAMBAÇO! - NOTA: 10 (Letra)

4 - CUBANGO: Composto pela parceria liderada por Sardinha, multicampeão na escola, a Academia de Niterói traz um samba mediano, com uma excelente melodia mas com uma letra ruim, afinal de contas, para um samba que fala sobre o mar, foram inevitáveis as expressões (repetitivas) como "No vai e vem do mar, as águas vão rolar", "Mareou, maré cheia", "tenebroso mar da imaginação" que tiraram a qualidade da obra. A melhor parte é o trecho "Água é vida, vida sou eu/A cristalina, lágrima de Deus" Estreante na escola, Hugo Júnior até que não compromete, mas foi inseguro em alguns trechos. Uma obra inferior comparada aos últimos anos. - NOTA: 9.5 (Letra)

5 - TUIUTI: Para cantar "A Farra do Boi" a azul e amarelo de São Cristóvão traz um samba leve e gostoso de se ouvir. Com ótima melodia e letra, destacando o jogo de palavras no primeiro verso "Ser tão criativo nos sertões da fé", o refrão central que diz "Lá vai o boi" (lembrando um pouco o samba da São Clemente de 2004) e o principal que chama a comunidade pra "descer o morro e fazer a farra". Um samba que com certeza vai facilitar a harmonia da escola. Daniel Silva canta com perfeição, tendo a companhia de Ciganerey, que a princípio também seria intérprete na Tuiuti, mas acabou deixando a escola para assumir o microfone oficial da Mangueira após a morte de Luizito. No mais, um dos 5 melhores sambas da safra. - NOTA: 10 (Letra)

6 - IMPÉRIO DA TIJUCA: É um samba que entra no hall do pior dos piores. Depois de 4 belos sambas seguidos, a obra da escola do Formiga para 2016 é uma tosquice só. A destacar-se pelo refrão principal "Bye bye menino, bye bye gigante/O Império aplaude o artista errante/O tempo rugue e a Sapucaí é grande" que comprova de uma vez por todas a pobreza poética da obra. A melodia até que é boa, mas a letra é uma catástrofe sem fim. Nem o competente Rogerinho pôde salvar o samba... acho que nem se o Jamelão reencarnasse ia salvá-lo. O saudoso José Wilker merceia uma homenagem bem... eu disse bem? beeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeem melhor. - NOTA: 8.2 (Letra)

7 - CAPRICHOSOS: Falando sobre os gringos que jogaram e jogam no Brasil (tendo como pano de fundo o sérvio Petkovic) a Caprichosos traz um samba até que agradável de se ouvir, com melodia boa, mas a letra é irregular, trazendo em alguns trechos limitações poéticas para o tema como "Uma 'aquarela' de um 'Brasil mais brasileiro'". O ponto forte é o refrão principal "Caprichosos chegou, quero ver segurar!/Minha torcida é de Pilares, tem que respeitar". Thiago Brito não compromete, porém, não fez uma interpretação muito feliz. - NOTA: 9.4 (Letra)

8 - INOCENTES: A caçulinha da baixada conseguiu tirar leite de pedra: conseguir fazer um bom samba com um tema pouco usado na Sapucaí, o cinema, mais precisamente o cineasta Cacá Diegues, a melodia é excelente, a letra até que não é ruim, mas peca na repetição de clichês batidos, como "Vem nessa meu amor, vem ser feliz também" por exemplo. O refrão central "Mulher Brasileira beleza na cor/Xica da Silva escrava do amor" é um primor. Um verso, que acho no mínimo cômico e desnecessário é "Valeu Cacá! Por vir ao mundo/E alegrar a tanta gente" vamos combinar, né? Nino do Milênio faz uma boa interpretação, embora tenha exagerado demais nas reverberações. Ressalvas a parte, boa obra da Inocentes. - NOTA: 9.6 (Letra)

9 - RENASCER: A parceria Cláudio Russo, Moacyr Luz e Teresa Cristina (que entrou na parceria em 2015) embora encomendada, vem rendendo grandes sambas a escola, e o de 2016 não foge a regra: um grande samba para falar de Cosme e Damião. O principal (e único) refrão "Olha o pique esconde, comigo não tá!" é o ponto forte da obra. A letra descreve com perfeição o enredo e a melodia é excelente, assim como o entrosamento da dupla Diego Nicolau e Evandro Malandro. Briga com a Viradouro como melhor samba da Série A. - NOTA: 10 (Letra)

10 - SANTA CRUZ: A escola traz um ótimo samba, que serve como alerta para a preservação da natureza (curiosamente, o mesmo enredo apresentado pela escola em 2009) com trechos inspiradíssimos como "Quem foi que atirou essa flecha/No peito sagrado da vida?", "A corrente está formada pelo bem" e, a melhor parte do samba "Hoje a nossa fantasia/Só não será em vão/Se houver mais união e menos hipocrisia". O refrão principal "Ôôô... ôôô/Diz mata, eu digo verde/Ôôôô/A Santa Cruz é meu clamor/É minha sede" é um grande achado da letra. Pavarotti, agora sozinho no microfone da verde e branca, faz uma perfeita interpretação. Gabby Moura (ex-The Voice) também faz uma ótima participação, não comprometendo, mas o excesso de "Wanderpirismo" dela me incomodou demais. - NOTA: 9.9 (Letra)

11 - PORTO DA PEDRA: Lamentável, assim posso resumir o samba do Tigre. Possui uma melodia razoável e uma letra muito ruim, com rimas no infinitivo nada inspirados, como "Hoje é dia de alegria, seu sorriso contagia/Quando o circo do tigrão passar""Vamos juntos cantar aquela musiquinha/Parabéns... Carequinha!", que considero, com toda justiça, o pior verso de todos os sambas do disco. Anderson Paz até canta bem, mas nada pode fazer pra salvar o samba, além do mais, em alguns versos o tom está alto para a voz dele. O palhaço Carequinha merecia uma homenagem mais digna. - NOTA: 8.5 (Letra)

12 - CURICICA: A tricolor de Jacarepaguá traz um samba alegre pra falar do teatro de bonecos mamulengos. A melodia é excelente e a letra é boa, narrando bem o enredo, só é um pouco confusa no meio, com a repetição do verso "O palhaço não faz rir ninguém". Ronaldo Yllê, pelo nono ano seguido na escola, faz uma boa interpretação, dividindo-a com Elba Ramalho, que dispensa maiores comentários. - NOTA: 9.8 (Letra)

13 - ALEGRIA DA ZONA SUL: Apesar de São Jorge ser um enredo batido (só em 2016 passará duas vezes na Sapucaí) ainda rende grandes sambas. E é o caso da Alegria. Um samba de pegada, que emociona qualquer componente da escola e qualquer devoto do santo guerreiro, seja no catolicismo ou no sincretismo - a ótica que o enredo abordará. Os refrões são de uma força absurda, principalmente o principal "Quando toca o adarrum/É batuque pra Ogum" que considero um dos melhores refrões da safra. Tiganá não compromete e a bateria "Show de Ritmo" tem uma excelente atuação. - NOTA: 10 (Letra)

14 - ROCINHA: De volta a Série A depois do rebaixamento em 2014, a escola apresenta um samba valente. Com uma bela melodia e com uma letra correta. Destaco o refrão principal "Sou a alma, a cara desse lugar" e o trecho final da segunda parte "Vai Brasil, trago a favela no meu coração/A Nova Roma incendeia/Um coliseu de emoção". O ponto negativo é as duas primeiras frases do samba "Vou cantar-te com meus versos/Voa borboleta encantada" cuja métrica não ficou legal. Leléu canta o samba com perfeição, tendo na minha opinião, a melhor interpretação do CD. Ah, e achei demais o grito de guerra da bateria. - NOTA: 9.6 (Letra)

Para usuários do site UOL Deezer, clique aqui e ouça o álbum completo da Série A. Ou então, ouça o mesmo álbum, só que com apenas uma passada de cada samba, clicando no link.

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