Em Geral: Os últimos empates de carnaval

(por Carlos Alberto)

Imagem relacionadaSeja em todas as esferas, os empates no primeiro lugar causam (para o bem ou para o mal) um buxixo, um disse-me-disse, entre outros termos. E no carnaval não é diferente. Com empates justos, outros nem tanto, ao longo da história os empates geram longa discussão até hoje. Pegando gancho na grande polêmica do carnaval de 2017 - que foi estranho do começo ao fim - que resultou na divisão do título entre Portela e Mocidade, resolvi nesta coluna resgatar alguns empates em, pelo menos, trinta anos - já que, se for pra listar todos eles, daria um gabarito de vestibular. Apenas um abre parênteses ao quíntuplo empate em 1960, que só aconteceu graças a suspensão da contagem dos pontos após Natal ter apanhado da Polícia e gerado uma grande confusão - em tempo, a Portela venceu nos quesitos, com 100 pontos, mas, nas apurações de penalidades o Salgueiro seria declarado campeão originalmente. Fechando parênteses, vamos para a nossa lista - que tem como principal fonte de pesquisa alguns textos do competente blog Ouro de Tolo.

90 e 91: Da Freguesia à Barra Funda

Começamos esta lista por São Paulo, onde duas escolas polarizaram a disputa no começo dos anos noventa. Camisa Verde e Branco e Rosas de Ouro dominaram a disputa na Terra da Garoa ao ponto de dividirem o título entre elas em dois anos seguidos. Foram as últimas campeãs da passarela da Tiradentes (1990) e as primeiras campeãs do Sambódromo do Anhembi (1991 - sendo este devido a ausência dos critérios de desempate). O equilíbrio era tão grande que as duas empatam até nos chamados "títulos solo", já que, antes dos dois empates, a verde-e-branca da Barra Funda foi campeã em 89 (em apuração polêmica) e depois dos mesmos, a roseira venceu em 1992.


1993: o caso do resultado vazado

Ainda em São Paulo. Desta vez, com um caso que veio à tona quase duas décadas depois. Camisa Verde e Branco e Vai-Vai haviam dividido o título naquele ano com pontuação máxima. Até aí tudo bem, se não fosse por um detalhe: horas antes da leitura das notas, alguns membros da imprensa já estavam com o resultado final na mão. As outras escolas armaram um quiprocó e no fim das contas, optou-se pela divisão o título por sugestão da então presidente do Camisa. Quem revelou essa história foi Zulu, hoje locutor da apuração paulistana, durante uma edição do programa "No Mundo do Samba" em 2010 - veja no vídeo abaixo a partir dos 12 minutos. A LIGASP, porém, aprendeu a lição e, a partir do ano seguinte, passou a guardar as cédulas no Batalhão da ROTA.


1997: Uma "bolinha fria" que decidiu um acesso

Agora aportamos no Rio de Janeiro, mais precisamente no antigo Grupo de Acesso - que sempre foi terreno para grandes confusões. Há exatos vinte anos, Tradição, São Clemente e Caprichosos de Pilares empataram com 178 pontos e somente duas subiriam ao Especial. A Tradição foi declarada campeã mesmo com bateria e baianas desfilando sem fantasia. Depois, foi realizado um sorteio para definir a segunda promovida, e neste a Caprichosos levou. Até hoje os clementianos juram que houve “bolinha fria” no sorteio. Lógico que terminou em confusão. A preta e amarela pleiteou vaga no desfile das campeãs e conseguiu, mas quando pediu vaga pra desfilar entre as grandes em 1998 não obteve sucesso. Pelo menos a escola teve um final feliz, já que no ano seguinte conseguiu o acesso ao Especial.

1998: Divisão polêmica

O leitor achou que o Grupo Especial carioca ficaria longe de uma polêmica envolvendo divisão de título, né? No ano referido, marcado por sambas populares e desfiles bons e empolgantes - não todos, mas enfim - a Mangueira, de uma arrebatadora apresentação, despontou como favorita do começo ao fim, e foi campeã com méritos e pontuação máxima. Mas o que ninguém esperava é a Beija-Flor, de um desfile frio e técnico, também ter alcançado a pontuação máxima, superando as consideradas favoritas Viradouro e Imperatriz. Como o regulamento da época dava uma brecha e as escolas empataram em toda a pontuação válida, o título acabou dividido.

1999: O início...

Novamente em São Paulo. Frente a frente o luxuoso desfile da Gaviões da Fiel (sobre São Luís do Maranhão) e a técnica e polêmica apresentação do Vai-Vai (levando as previsões de Nostradamus). Nas notas, os dois terminaram empatados com 299,5 pontos - vale citar que a Torcida Que Samba teve uma punição anulada, já que estourou o tempo de desfile, mas alegou ter sido atrapalhada pelo congestionamento de alegorias na dispersão - e não haviam critérios de desempate previstos em regulamento, e considerando as saídas anteriores, resultariam em campeãs diferentes. Para encurtar a discussão, ficou decidido que o título seria dividido. Mal o sambista paulistano esperava que os empates no primeiro lugar seriam rotineiros...

2000: ...o meio...

...até porque, no carnaval dos 500 anos, teve outro empate. O primeiro carnaval de dois dias coroou, em disputa apertada com a Gaviões, um sacode histórico do Vai-Vai - enredo sobre a história brasileira no período de 1984 à 2000 - que a levou ao tricampeonato. Mas um tal café levou a X-9 Paulistana a surpreender meio mundo e também levar a taça. O título da tricolor da Parada Inglesa - embalado por um grande samba-enredo - nos rendeu a emblemática cena de seus torcedores correndo para abrir a quadra, já que nem eles acreditavam no título...


2001: ...e o fim

Fechamos a estadia da lista por São Paulo com o primeiro carnaval da nova era que terminou no terceiro empate consecutivo em terras paulistanas. Desta vez, o grande favoritismo se confirmou: a Nenê de Vila Matilde, num, desfile excepcional, findou seu jejum de 15 anos sem soltar o grito de campeã. E mais uma vez o Vai-Vai ficou com a taça, apesar do desfile luxuoso ser abaixo do que se esperava. Aquele seria o último desfile com duas campeãs no carnaval de São Paulo, que desde então tem só uma campeã. Também seria o último título da águia da zona leste, recém-rebaixada para o Grupo de Acesso.

2009: Empate polêmico - parte 2

Chegamos ao antigo Grupo de Acesso B. Nele, Unidos de Padre Miguel e Cubango empataram e criaram um impasse. O regulamento previa que cada quesito teria cinco jurados, com descarte da menor e da maior nota de cada ítem julgado. As regras também previam que só poderia haver empate na primeira colocação, e se as duas escolas obtivessem notas válidas máximas em todos os quesitos – alcançando o total de pontos máximo possível, 240. Como relatado, Cubango e Padre Miguel empataram em primeiro lugar, criando assim um fato “consumado” para a Lesga: como não havia desempate, as duas teriam de subir – e foi o que aconteceu.

2017: O tal destaque...

E enfim chegamos ao último caso. Num carnaval marcado pelos acidentes nos desfiles de Tuiuti e Unidos da Tijuca, a Portela venceu na disputa costumeira da quarta-feira de cinzas, quebrando o incômodo jejum de 33 anos. Até aí estava tudo bem, se não fosse por um detalhe que veio à tona três semanas depois: quando as justificativas foram lanças, foi constatado um erro na justificativa de Valmir Aleixo na nota que custou o título à Mocidade. Aleixo despontuou a escola por não ter visto o destaque "Esplendor dos sete mares". Este destaque era Camila Silva, que no fim de janeiro foi coroada com rainha de bateria no lugar de Carmen Mouro. Com isso, a Mocidade atualizou o roteiro de seu desfile no livro Abre-Alas, sendo que o jurado usou a versão desatualizada. A estrela guia de Padre Miguel pleiteou o título (dividido com a Portela) perante a LIESA e conseguiu.


Qual será o próximo empate que os deuses do carnaval irão nos reservar? Vamos esperar os próximos desfiles...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Suporte: Template Blogger -