Em Geral: Vamos Justificar as Expressões de Entusiasmo

Foi só o carnaval acabar e a poeira abaixar que foram lançadas elas, as justificativas dos jurados. Liesa e Lierj divulgaram as mesmas ontem e hoje - dia 1°, respectivamente, neste texto farei aqui uma análise das chamadas popularmente de "desculpas esfarrapadas" entretanto serão apenas as que me chamou atenção. Pedindo licença ao amigo Rafael Rafic, do Ouro de Tolo, a partir de agora estaremos "Justificando o Injustificável" - ou pelo menos, vamos tentar. (roda a vinheta!)

GRUPO ESPECIAL

Começamos pela elite, e o primeiro quesito foi logo de cara o meu predileto: Samba-Enredo. No geral, foi um julgamento até coerente, porém com algumas falhas. Numa safra que considerei a melhor em 15 anos, as notas foram justas. Todavia, houve um pequeno desencontro: SETE sambas (que eu considerava os melhores, aliás) somaram os 30 pontos - foram eles: Beija-Flor, Tijuca, Vila Isabel, Salgueiro, Portela, Imperatriz e Mangueira - este foi o acerto, o erro foi que apenas QUATRO dos sete sambas obtiveram os 40 pontos (Tijuca, Salgueiro, Portela e Mangueira) o que pra mim foi um ligeiro absurdo. No mínimo, metade devia ter somado os quarenta pontos.

Mauro costa juniorA nota mais absurda do quesito ao meu ver foi o 9.9 que Mauro Costa Junior, logo em sua estreia, lascou no belo samba da Imperatriz. A justificativa foi a seguinte: "A melodia em tom menor reproduziu muito bem a música regional sertaneja com a destreza da batida do samba ficou excelente. Mas, achei uma longa construção melódica, morna, só explodindo no refrão". Se a melodia era longa, sinceramente não percebi isso, até porque o samba Gresilense tinha uma melodia gostosa de se ouvir. Talvez o desconto se deu por conta da aceleração da bateria no dia do desfile, porém, sejamos sinceros, a obra que foi considerada por público e crítica a melhor do grupo não merecia tal desconto, convenhamos.

Outra nota em samba-enredo que foi bem esquisita foi outro 9.9, dessa vez para o samba da Beija-Flor, nota esta concedida por Alfredo Del-Penho - também estreante. Segue a justificativa: "O samba tem alguns problemas na letra em relação a melodia. Prosódia errada quando se ouve "Minas Gêrais", "pro samba pássar", que poderiam ser ajustadas como foi ajustado o trecho "Congonhas de Sabará". Além disso uma junção de duas frases em um mesmo trecho melódico, faz com que se oiça (sic) "que o Rio imortalizou teu chão", confundindo o sentido". Veja bem, o samba funcionou de forma esplêndida e até surpreendente no desfile, e a pessoa me tira ponto por conta de problemas na melodia sendo que as partes citadas são referentes a letra. Ou seja, chegamos a conclusão de que ele julgou o samba de uma vez só, ao invés de letra e melodia em separado. Na análise que fiz sobre os safra do Especial, havia chamado a atenção para as rimas terminadas em "ar" e "ou" e o desconto do julgador foi parecido com o que disse. Uma nota no mínimo estranha, muito pelo o que aconteceu no desfile.

Para não passar batido, outros absurdos do julgamento referido foram as duas notas 10 (!!!) ao limitado samba da Grande Rio e o desconto exagerado ao samba da Estácio e até mesmo ao samba da Mocidade, que não era um primor, mas não merecia perder 0,6 enquanto que a tricolor caxiense perdeu apenas 0,1. E o samba da Ilha (que até "cresceu" na avenida) deveria perder no mínimo mais 0,2

Agora começa a série de justificativas estranhas, sendo que as desse ano chegaram ao limite do "isso não pode ser real". Começamos com a excelentíssima julgadora Regina Oliva, de Fantasias. descontou o Salgueiro em 0,1 sabe por que? tem ideia? passa pela sua cabeça? tem noção? pois vou dizer: descontou a Academia por simplesmente ter muito vermelho e branco (!!!!) se não acredita, segue a justificativa - se podemos chama-la disso: "A escola apresentou pouca variação de cores nas fantasias. Muito vermelho e branco, as cores da escola". Estranho, não? É como se no futuro a Portela ser despontuada por ter "muito azul e branco". Se era pra ser julgado dessa forma, a Imperatriz não teria sido tri em 2001, já que a maioria da escola veio de verde e rosa... acabou? pior que não! teve mais... muito mais...

Em Evolução, a jurada Edileuza Batista de Aleluia (figura carimbada do juri, diga-se) despontuou a Vila Isabel (também em 0,1) sabem porque? Porque os componentes estavam animados demais! Repito: ESTAVAM ANIMADOS DEMAIS! Segue a justificativa: "Sabemos que o amor pela sua escola é grande, mas quem estiver no decorrer do desfile como "apoio" deve se ater a função e não pular e dançar esquecendo os limites que as alas precisam para evoluir". Não preciso dizer mais nada, não é? Com o perdão do palavrão: Porra, eles querem que o carnaval vire o quê? Parada de sete de setembro? Não pode pular, não pode gritar, só ficar marchando. Cheguei a ler um comentário que dizia o seguinte "ela queria que fosse velório?". É inacreditável esta "justificativa", tão inacreditável que inspirou o título desse texto. Repito: É INACREDITÁVEL!

Considerações finais: Outras notas a citar foram em bateria. A Mocidade recebeu 9.9 do jurado Sérgio Naidim por "não apresentar criatividade" lembrando uma justificativa idêntica lascada na bateria da Ilha em 2015. Aliás, ainda tivemos o relato que "bateria do mestre Ciça deu um show de criatividade" e a Beija-Flor apresentou "um BPM impecável", entretanto ambas foram penalizadas pelo julgador Ary Jayme Cohen (Como é???).

SÉRIE A

Sobre as justificativas do Grupo de Acesso, é uma vergonha alheia impressa. Não só pelo fato da Tuiuti perder apenas 0,1 no resultado e por Viradouro e Império Serrano ficarem a quase 2 pontos da azul e amarelo, mas por algumas justificativas (ainda mais) vergonhosas, tão vergonhosas que dá vontade de vomitar. Boa parte até se salva, mas a maioria...bem, vamos tentar entender algumas.

Primeiro, com uma justificativa curiosa (que inclusive, rendeu meme do Sambistas da Depressão - foto ao lado) na Curicica: no quesito Evolução, o jurado Carlos Fraga concedeu 9.9 a agremiação por um motivo bem simples: "O excesso de imprensa atrapalhou a evolução da ala das baianas e musas". Pudera, não é? Seja no desfile ou nos ensaios técnicos, o que tem de papagaio de pirata que não tem nada a ver com o espetáculo não está no gibi... entretanto, o jurado deveria estar julgando a escola, e não a presença da imprensa.

Em Alegorias e Adereços, o Império Serrano foi despontuado não só por problemas de acabamento nos carros (inclusive, foi mencionado o esquecimento de uma mochila no chão de uma das alegorias) mas devido a reciclagem de esculturas do abre-alas apresentado pela Imperatriz em 2015. Justificou André Pereira: "A primeira alegoria apresentou um quê de dejá-vu com o excesso de alegorias da Imperatriz de 2015". Falando em alegorias, a Viradouro por exemplo foi despontuada pelo excesso de fumaça que encobriu o quarto carro (desfilei a frente desta alegoria) e "contraponto a defesa proposta" pelo abre-alas. Enquanto isso, o abre-alas do Tuiuti teve problemas de iluminação e só foi despontuado por apenas UM jurado - e ainda assim gabaritou o quesito.

Por fim, a aberração do julgamento: o belo samba da Viradouro, considerado por público e crítica como o melhor samba do carnaval, levou 9.9 do jurado Renato Vazquez sabe por que? Segue a justificativa: "Destaco a qualidade do samba, mas por conta do ritmo acelerado houve uma confusão sonora no verso "desça em solo brasileiro", que foi cantado na avenida por "esse" ou "desse" durante o desfile". Oi? aceleração? onde? O samba da Viradouro foi executado em andamento muito agradável na avenida... ou será que ele não percebeu? E para terminar com chave de lata, o quesito Harmonia: a mesma Viradouro foi agraciada com três 9.9 porque as duas primeiras alas da escola não cantavam o samba em sua totalidade. Pois bem, no desfile campeão do Tuiuti teve muita gente que passou sem cantar o samba e quais foram as notas? Quatro 10!

Considerações finais: Diante de tudo que já fora mencionado, irei parafrasear a Glória Pires, não tenho capacidade de comentar.

Para encerrar de vez o texto, reproduzo aqui as palavras do intérprete Zé Paulo Sierra, da Viradouro: "Cheguei a conclusão do quanto é difícil fazer carnaval. Se a bateria passa reta, faltou criatividade, se passa fazendo bossa exagerou. Se o cantor não faz "caco' o samba não empolgou e não rendeu, se o cantor faz ''caco" exagerou e atrapalhou. Se a fantasia tem muita cor da escola não serve, mas se não tem, também não serve, Se o samba é feito com melodia mais comum é morno, se é feito com melodia "modernosa" fere o andamento. É muito complicado o julgamento das escolas. Como fazer 3500 pessoas que se juntam praticamente na hora, cantarem em uníssono? Como manter o canto dos interpretes linear durante 82 minutos? Como manter o andamento de uma bateria durante todo tempo? Como exigir qualidade de equalização, altura e timbre num evento ao vivo que não tem passagem de som e existem falhas técnicas absurdas? Não é complicado somente para nos que desfilamos, para eles também deve ser bastante. Os nossos dirigentes precisam repensar os critérios urgentemente. No quesito harmonia por exemplo; julguem a parte harmônica apenas (sincronia do canto,cordas e bateria). Não é justo penalizar uma escola com 3500 por que 20 pessoas não cantavam o samba em sua totalidade".

O texto já disse tudo, o problema é que as agremiações se sentem acomodadas com isso como se achasse que está lindo e maravilhoso, mas não está! Se nenhuma escola pressionar a Liesa e (principalmente) a Lierj, continuaremos a ler justificativas bizarras como as que foram mencionadas. E aliás, uma dica aos jurados: que melhorem um pouco a sua escrita, pois foi difícil (certas vezes impossível) ler algumas justificativas pois a grafia era de difícil entendimento. Enfim, vamos pedir ao rei Banto proteção, saúde... e que venha o próximo carnaval.

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