Caríssimos, eis aqui mais uma edição da minha, da sua, da nossa Sexta Dissonante. Hoje entramos no segundo episódio da série que homenageia as grandes campeãs da festa de momo da ponte-aérea. Semana passada iniciamos os trabalhos com a X-9 Paulistana, campeã do Acesso paulistano. Agora, vamos do Acesso de lá para o Acesso de cá. Chegamos à capital do samba, e tem que respeitar a escola que, com sua batida sinfônica, vem chegando no nosso desfile de campeãs.
Avisa aos navegantes que, pelo toque do agogô você sabe quem chegou! Na passarela popular da Sexta Dissonante, a grande campeã da Série A carioca: Império Serrano!
Dona de nove títulos do Grupo Especial, ocupa junto com o Salgueiro, a posição de quarta maior vencedora no rol das campeãs do carnaval do Rio de Janeiro. Nasceu em 23 de março de 1947, quando Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira, então integrantes da Prazer da Serrinha, haviam composto o samba Conferência de São Francisco para o carnaval, mas no momento de desfile, o presidente da escola, Alfredo Costa, resolveu que a escola desfilaria com outro samba. A confusão gerou problemas de harmonia, o que levou a Prazer da Serrinha a terminar em 11º lugar. Descontentes, Mano Décio da Viola, Silas de Oliveira, Sebastião de Oliveira (o Molequinho), entre outros, em reunião na casa de Dona Eulália do Nascimento, decidiram fundar uma nova agremiação, a qual deram o nome de Império Serrano, uma homenagem ao Império da Tijuca. A escola veio a ser campeã em 1948 (do então Grupo Único), com o enredo "Homenagem a Castro Alves" . Neste desfile, apresentou-se com todos os integrantes fantasiados, coisa inédita até então. Calixto introduziu o prato metálico e a frigideira de cozinha como instrumento de percussão. Sua mulher, Olegária dos Anjos, foi quem introduziu as fantasias de luxo (destaques) nas escolas de samba. O Império Serrano também ganhou o campeonato do ano seguinte, com "Tiradentes", de Mano Décio da Viola, Penteado e Estanislau Silva. Conquistou o tricampeonato dois anos depois com "Sessenta e um anos de República", samba-enredo de autoria de Silas de Oliveira. Chegou ao tetra-campeonato em 1951, com "Batalha naval do Riachuelo", de Mano Décio da Viola, Penteado e Molequinho. Ambos os desfiles organizados pela FBES. Já na década seguinte, no ano de 1960, o samba-enredo "Medalhas e brasões", de Mano Décio e Silas de Oliveira, teve de ser alterado porque a embaixada do Paraguai não gostou das referências a seu herói Solano Lopez sendo tratado como ditador. Depois de muita confusão, a Serrinha foi considerada campeã junto com outras quatro escolas. Quatro anos mais tarde a escola classificou-se em 4º lugar com o samba-enredo "Aquarela brasileira", de autoria de Silas de Oliveira - este considerado, por muitos, como um dos mais bonitos de todos os tempos.
Já em 1965, outro samba-enredo da escola também foi apresentado ao público, obtendo grande sucesso: "Os cinco bailes da história do Rio", composto por Dona Ivone Lara, Silas de Oliveira e Bacalhau, que deu a escola o vice-campeonato naquele ano, ficando exatos dez pontos atrás do Salgueiro. Outros dois sambas que entraram para a vasta galeria de grandes obras imperianas foram "Pernambuco, Leão do Norte" (1968) e "Heróis da Liberdade" (1969). A verde e branca só voltaria a gritar "É Campeã" em 1972, com "Alô, alô, taí Carmen Miranda", enredo do inesquecível carnavalesco Fernando Pinto. Então, para voltar a se sagrar o melhor, a Serrinha passou por penúrias, como ser rebaixada para o Grupo 2 em 1978. Até que em 1982, quando homenageou os antigos carnavais com o enredo “Bumbum, Paticumbum, Prugurundum” e nele fez uma crítica pesada ao gigantismo das escolas de samba naquele período – vide os versos “Superescolas de samba S.A. / Superalegorias / Escondendo gente bamba / Que covardia”. – mais uma vez sagrou-se campeã do carnaval. Mesmo sob forte calor, a Serrinha contagiou a Marquês de Sapucaí. Uma pena que este foi seu último caneco na elite até hoje...
Com alguns bons carnavais no restante da década de 80, a coroa imperial viu-se numa crise interna e financeira na década seguinte, sendo, logo de cara, rebaixada para o Grupo A com um enredo sobre os caminhoneiros. Em 1992, terminou em terceiro lugar, não conseguindo o retorno imediato, o samba mostrava a trajetória, as características dos carnavais da escola da Serrinha e a insatisfação dos imperianos por estarem no Grupo de Acesso. Seu refrão dizia assim: "Sou Império, sou patente / Só demente é que não vê / Do samba sou expoente / Abra meu livro, pois tu sabes ler". No ano seguinte a sorte conspirou a favor do Reizinho: com o enredo "Império Serrano, Um Ato de Amor" que resultou numa obra magistral, consegue o retorno ao Grupo Especial obtendo o vice-campeonato.
De volta à elite, o Império deixou claro que sua crise estava longe de acabar. Tendo o azar de ver metade dos carros quebrando (muito imperiano jura que aconteceu sabotagem dos mesmos) a escola acabou em último lugar, mas como não houvera rebaixamento naquele carnaval, a escola permaneceu. Após um 95 apagado, o menino de 47 teve seu último brilho noventista com "E verás que um filho teu não foge à luta", enredo que homenageou o sociólogo Betinho. Com uma emocionante apresentação, a verde e branca obteve um honroso sexto lugar e o samba - composto por Arlindo Cruz e companhia - entrou para o hall das grandes obras da escola. Dá até pra cantar um genial trecho desta obra: "Junte um sorriso meu, um abraço teu, vamos temperar uma porção de fé, sei que vai dar pé, não vai desandar..."
De 1997 à 1999, a verde e branca se alternou entre o céu do Especial e o inferno do Acesso, até que os "Canhões dos Guararapes" a levaram de volta ao céu de elite. No primeiro ano do novo milênio, o Império apresenta (com mais um samba inspirado, a meu juízo canetado injustamente na apuração) o tema "O Rio Corre pro Mar" falando sobre os estivadores e os portos do Rio. Com anos seguintes de nem tanto destaque, o Império decide por levar à Sapucaí - graças a autorização da LIESA, claro - o clássico "Aquarela Brasileira", e mesmo fazendo um desfile de muita garra, levando todas as torcias a mais pura emoção que só o carnaval pode nos trazer, termina apenas numa nona colocação - e levando nas costas uma estranhíssima nota 7,9. Depois de um 2005 apagado, o Império traz a religiosidade para a avenida, e com um dos seus maiores sambas de sua história recente e diante de uma disputa equilibrada, conquista um satisfatório oitavo lugar.
Creio que noventa por cento dos conhecedores sobre carnaval acham que a bancarrota da Serrinha foi em seu último rebaixamento, mas acho que tal feito negativo começou no rebaixamento de 2007, num tema sobre as diferenças - muito mal desenvolvido. Subiu novamente exaltando Carmen Miranda, mesmo tema que levou à escola ao título de 1972, mas retornou ao Acesso (de forma injusta) ao reeditar "Lenda das Sereias, Rainha do Mar", apresentado originalmente em 1976. Desde então, o menino de 47 iniciou sua complicada estadia pela segunda divisão do samba. Poderia ter subido tranquilamente em duas oportunidades, logo quando exaltou dois baluartes de sua história: em 2012, com Dona Ivone Lara, e em 2016, com Silas de Oliveira. Diria que até mesmo em 2015, quando fez um desfile de garra, quando era desacreditado, teria chances de subida. O calvário se findou neste ano, quando exaltou o centenário de Manoel de Barros.
A procissão divina se repete, chegou o menino de quarenta e sete
Vamos ouvir mais um pouco do Império Serrano? Solta o play.
E para encerrar, o samba campeão da Série A no carnaval de 2017!
E fica aqui nossa homenagem ao Império Serrano. Numa coincidência bem feliz, esta coluna é publicada um dia após a escola completar 70 anos de carnaval. Feliz aniversário e feliz retorno ao seu lugar, Serrinha! Salve Silas de Oliveira! Salve Mano Décio da Viola! Salve Dona Ivone! Salve Beto Sem Braço! Salve Aloisio Machado! Salve Jorginho do Império! Salve Arlindo Cruz - e pronta recuperação!
Serra, Serrinha, Serrano, salve o Reizinho de Madureira!
Salve o jongo da Serrinha! Machado!
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