Caríssimos e prezados leitos, seguimos, dentro da Sexta Dissonante, a série que homenageia as campeãs do carnaval de 2017 nos principais grupos de Rio e São Paulo. Depois das campeãs do Acesso, é hora das grandes vencedoras. E voltamos a Sampa, desembarcando na zona leste com a mais nova integrante da galeria de vencedores do carnaval paulistano. Que a gente sabia que viria campeã inédita, não há dúvidas, mas com aquela emoção de uma vitória na última nota é mais saboroso.
Colorindo a passarela da Sexta Dissonante de azul e branco, vem aí a grande campeã do carnaval de São Paulo: Acadêmicos do Tatuapé!
A Tatu surgiu no dia 26 de outubro de 1952, fundada por Osvaldo Vilaça, o Mala, e seus amigos, com o nome de Unidos de Vila Santa Isabel, em referência e homenagem ao local onde foi fundada. Em 1964, com a mudança da sede para a Rua Antônio de Barros, a escola passa a chamar Acadêmicos do Tatuapé. Nesta época eram famosas as rodas de samba na Praça da Sé e a batucada da zona leste era muito respeitada nesses encontros. Osvaldo Vilaça, o Mala, era muito amigo de Mano Décio da Viola, um dos fundadores do Império Serrano (que é a madrinha da escola) e um dos mais importantes compositores de sambas enredo da história do carnaval do Brasil, alguns deles para a própria Tatuapé. Todos os anos Mala ia ao Rio de Janeiro para ajudar o amigo a armar os enredos da verde e branco de Madureira, com ele ia o figurinista Álvaro Ribeiro.
A Tatuapé foi por duas vezes (1969 e 1970) terceira colocada no desfile do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo (na época Grupo I) com os enredos "Império Tropical" e a "A Cama de Gonçalo", respectivamente. Sua bateria, comandada por Mestre Sagui, apito de ouro do carnaval paulistano, era muito respeitada por sua cadência e criatividade. Nos anos 1980 viveu uma fase de declínio, culminando em 86 com a paralisação de suas atividades. Em 1991, já com Roberto Munhoz na presidência, a azul e branco do Tatuapé iniciou a caminhada de volta ao cenário do samba paulistano. Em 92 volta aos desfiles no grupo de seleção (na época vaga aberta) que marcaram o começo de uma fase de três anos de sucessivos bons resultados (1 campeonato e 2 vice-campeonatos). Em 95 volta a desfilar no sambódromo paulistano, já no Grupo II da UESP.
Em 2003, a escola foi a Campeã do Acesso com o enredo "Abram alas para o Rei abacaxi", sacramentando sua volta ao Grupo Especial de São Paulo após longos 28 anos, ficando na frente de escolas como Pérola Negra, Tom Maior, Imperador do Ipiranga e Mancha Verde, que eram apontadas como favoritas. No ano seguinte, com o carnaval temático em homenagem aos 450 anos da cidade de São Paulo, a Tatuapé trouxe como seu enredo o próprio bairro, e um dos fatos marcantes, foi que a Tatuapé foi a única escola juntamente com a Império de Casa Verde, a tirar cinco notas dez no quesito Alegoria, um feito extraordinário se tratando de uma escola recém-chegada à elite, terminando em nono lugar, entre 16 escolas, à frente de grandes escolas, como Camisa Verde e Branco, Leandro de Itaquera, Unidos do Peruche, Gaviões da Fiel e Vai-Vai.
Já em 2005, com enredo sobre o Pará, não repetiu o bom resultado, terminado em décimo terceiro lugar. Em 2006 a escola teve dificuldades financeiras, e acabou rebaixada, porém ganhou o Troféu Nota 10, promovido pelo jornal Diário de S. Paulo, nas categorias Melhor Bateria e Melhor Mestre-Sala e Porta-Bandeira e teve um dos melhores intérpretes da nova geração, Celson Mody, o Celsinho, que neste mesmo ano ganhou o Prêmio de Melhor Intérprete em premiação promovida pelo site SASP. De volta ao Acesso, conseguiu apenas dois sextos lugares.
Em 2009, a escola é rebaixada para o Grupo 1 da UESP - equivalente à terceira divisão do samba na Terra da Garoa - mas a estadia pelos desfiles de segunda-feira durou apenas um carnaval, já que em 2011 lá estava o Tatu de volta ao Anhembi. No ano seguinte, ao homenagear a cantora Leci Brandão e os 60 anos da escola. Fazendo um desfile compacto, conquista o segundo lugar do grupo de acesso de São Paulo, retornando para a elite. Em 2013, mais uma homenagem a mais uma ícone do samba: "Beth Carvalho, a madrinha do samba" foi o enredo que abriu aquele carnaval. Ao contrário das expectativas negativas, conseguiu um décimo primeiro lugar que lhe assegurou no Especial, sendo uma das cinco escolas (incluindo a Tom Maior em 2017) que abriram o desfile da sexta-feira de carnaval e conseguiram se manter na elite. Em 2014 viveu o lado inverso: teve a incumbência de fechar o desfile de carnaval de São Paulo - sétima escola a desfilar no sábado de carnaval. Levando à passarela “Poder, fé e devoção. São Jorge Guerreiro”, com aquele que considero o melhor samba da história da escola, terminou na sexta colocação - quando chegou a liderar a disputa. Em 2015 a história foi outra: com o enredo sobre o ouro, acabou estourando o tempo de desfile e por pouco não voltou para o acesso.
Desde o ano passado os horizontes mudaram para a azul e branco da zona leste. Homenageando a Beija-Flor de Nilópolis, conquistou um vice-campeonato que surpreendeu muita gente. Só que os grandes feitos da escola não cessaram tão cedo. Para 2017 levou ao Anhembi o enredo "Mãe África conta a sua história. Do berço sagrado da humanidade à abençoada terra do grande Zimbabwe", uma homenagem ao continente africano e ao Zimbabwe, exaltando a influência da Ubuntu, filosofia africana cujo significado é a humanidade com os outros, conceito amplo sobre a essência do ser humano e a forma como se comporta em sociedade. Com uma bela apresentação, conquistou o primeiro campeonato de sua história, ao desbancar a Dragões da Real - que estava tão próxima da vitória - no desempate e na última nota de samba-enredo.
Infelizmente não há registro de vários sambas da escola (o único antigo disponível é o de 1972, no alto do post), por isso, vai aí uma playlist de obras mais recentes da Tatuapé. Solta o play aí.
E agora, o samba campeão do carnaval de 2017 em São Paulo
E esta aqui foi a nossa homenagem. Parabéns pelo campeonato, Tatuapé! Na próxima semana encerraremos esta série com a grande campeã do Rio, a Portela. Isto é, se até lá a LIESA ainda não decidir se vai dividir a taça com a Mocidade...
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