A exemplo do que fez o amigo Henrique Brazão, colunista do Ouro de Tolo, na série "Top 10" (série que recomendo a leitura, assim como a "Histórias do Sambódromo" da mesma revista eletrônica), faço nesse texto um Top-10 com os meus dez sambas preferidos da Viradouro, afinal, Henrique e eu temos uma coisa em comum: somos torcedores da Viradouro - sou torcedor mais fervoroso, confesso. Sem mais delongas, vamos a minha lista:
10 - Arquitetando Folias (2006)
Um samba que mistura poesia e valentia. Após o primeiro rebaixamento da escola, em 2010, escolhi esta obra como o "lema" para a volta a elite, já que seu refrão principal, além de ser valente, da primeira até a última letra, passa a impressão de que, independente de divisão, a Viradouro estará sempre no coração de sua torcida. A primeira parte é ótima, o refrão central é forte e a segunda parte é uma maravilha. O trecho "Chega de ver tanto sonho desabar/A humanidade deve mudar" passa uma mensagem esperançosa de um mundo de mais respeito e igualdade - até antecipando o que seria a obra da escola dez anos depois. Infelizmente foi a última vez que a Viradouro disputou e teve chance real de título, já que a partir de 2007 desceu a ladeira até ser rebaixada.
"De vermelho e branco, amor... vou sambar
Seja aonde for, terra, céu e mar
De braços abertos, que emoção
A Viradouro mora no meu coração"
9 - E a Magia da Sorte Chegou (1992)
Não gostava desse samba, muito por causa do que ocorreu no desfile, entretanto, me rendi a riqueza poética desta obra com o passar do tempo. Tem uma melodia linda e uma lenda que, apesar de longa, é perfeita. A competência de Quinzinho (sumido do carnaval até pouco tempo) dá um "up" a mais para o samba. Não foi a toa que, com inteira justiça, levou o Estandarte de Ouro. Infelizmente, a "sorte" do enredo não esteve ao lado da agremiação e o fogo consumiu quaisquer chances de uma vaga nas campeãs - embora exista a lenda do "castigo cigano".
"E sob a proteção da lua
Canta Viradouro que a sorte é sua"
8 - A Viradouro Vira o Jogo (2007)
O segundo samba mais popular da escola, caiu no gosto popular - principalmente das torcidas de futebol. Uma obra pra cima, marca do hoje presidente Gustavo Clarão. Tem refrões "de pegada" e partes que, apesar de alguns versos soltos, são agradáveis. O samba até que funcionou na avenida, mas o "sacode" que o samba prometia acabou não acontecendo. A escola que começou favorita estacionou no quinto lugar, mas este samba ficará para a história.
"Sou Viradouro e vou cantar
'Com muito orgulho, com muito amor'
Esse jogo vai virar
Eu quero ser o vencedor"
7 - Nas Veias do Brasil, É a Viradouro Em Um Dia de Graça (2015)
No seu retorno ao Grupo Especial após quatro longos e torturantes anos de calvário no Acesso, a vermelho e branco trouxe um samba inovador. Optou por juntar duas músicas de Luiz Carlos da Vila e formou seu hino. O resultado foi primoroso! Uma melodia emocionante e uma interpretação de gala de Zé Paulo. Já a letra dispensa comentários. Tem como base "Nas veias do Brasil" onde toda a letra é incluída, até mesmo o nostálgico "Ôôôôôôôô". Parte de "Por um dia de graça" fora incluída no início da segunda parte - "Em cada palma de mão, cada palmo de chão". É um samba que te conquista e te emociona do início ao fim. Tenho sublime admiração por este samba, até porque 2015 foi meu primeiro desfile na Sapucaí. Infelizmente, a escola foi prejudicada pela chuva dos céus e a chuva de 9.7 a mandou de volta para a Série A. O inédito recurso foi aprovado pelos jurados... menos Clayton Fábio Oliveira, que no alto de sua ignorância, lascou um 9.9 na linda obra.
"É preciso a atitude
De assumir a negritude
Pra ser muito mais Brasil"
6 - A Viradouro Canta e Conta Bibi, Uma Homenagem ao Teatro Brasileiro (2003)
Um samba magnífico! Letra e melodia são divinais! E com uma interpretação de classe de Dominguinhos do Estácio. Enfim, uma obra a altura da homenageada. No CD, apesar do coral abafando, resultou numa bela gravação. Na avenida, um show do carro de som e de Mestre Ciça na bateria, que aliás chegou a reverenciar Bibi Ferreira. A escola fez a melhor apresentação daquele domingo de carnaval, lamentavelmente cometeu erros em alegorias e evolução e estacionou na sexta colocação.
"E quando o sol se põe
Desce uma estrela lá do céu
Vem reviver, ao seu lado Bibi
O seu mais brilhante papel"
5 - Trevas! Luz! A Explosão do Universo (1997)
Uma obra contagiante, de letra com boa qualidade e uma melodia vibrante. Naquele ano, a escola contava com um grande time de Dominguinhos do Estácio, Joãozinho Trinta e cia. O objetivo era apenas voltar ao sábado das campeãs, entretanto, o samba, que não estava entre os melhores do ano, empolgou a avenida, Mestre Jorjão eternizou a paradinha funk (tão criticada por aqueles que não são adeptos a novidades) e os deuses do carnaval presentearam a vermelho e branco com o primeiro título do Grupo Especial. A partir dali, a Viradouro mostrava de vez a sua força, como quem diz assim: "eu também sou uma escola grande".
"Lá vem a Viradouro aí, meu amor!
É big-bang, coisa igual eu nunca vi
Que esplendor!"
4 - Bravíssimo! Dercy, o Retrato de um Povo (1991)
Foi onde tudo começou... depois de três acessos consecutivos, a vermelho e branco estreava na elite com um samba vibrante e irreverente, assim como sua homenageada. Quem está acostumado com um samba tradicional (dois refrões e duas partes) até estranha um pouco ao ouvir este, que não possui refrão central. Apesar deste mero detalhe, o samba é vibrante... vibrante não, muito vibrante. O desfile ficou marcado pela clássica cena de Dercy Gonçalves, aos 83 anos, desfilando com os seios à mostra. A então caçula do Especial ficou em sétimo lugar e quase beliscou o Sábado das Campeãs.
"Ah! Obrigado Dercy
Mercy, Dercy!
Abriu-se as cortinas pro seu show
São cinco letras a sorrir
De Madalena pra Sapucaí"
3 - O Alabê de Jerusalém, A Saga de Ogundana (2016)
Falta menos de uma semana para o samba ir para a avenida, corre o risco de não empolgar (torço para que não aconteça) mas é inegável que a obra baseada na peça de Altay Veloso, independente de como passará na Sapucaí, tem lugar cativo no hall das grandes obras da escola. O samba-enredo veio na hora certa, já que vivemos um momento em que presenciamos a intolerância religiosa, letra e melodia são perfeitas, emocionantes e envolventes. Mas, esta obra-prima merecia um registro fornográfico muito melhor. Enfim, como já escrevi, é uma obra-prima, é uma oração em forma de samba. Que o Alabê de Jerusalém possa emocionar a avenida.
"São João Batista que me batizou
É protetor da minha Viradouro"
2 - Tereza de Benguela, Uma Rainha Negra no Pantanal (1994)
Uma lindo samba, que infelizmente não é valorizado. É uma obra emocionante, com refrães maravilhosos e duas partes marcantes, uma delas tem um começo fantástico: "Amor, amor, amor.../Sou a viola de cocho dolente/Vim da Pérsia, no Oriente/Para chegar ao Pantanal". Há quem diga que o samba é arrastado e tem melodia reta, o que é uma senhora mentira. Para completar, uma bela atuação de Rico Medeiros. Repito o que disse no começo do tópico: um lindo samba que infelizmente não tem o valor que merece, até porque foi fundamental para a Viradouro alcançar o terceiro lugar, melhor colocação da escola até então.
"Vai clarear, oi vai clarear
Um sol dourado de quimera
A luz de Tereza não aparagá
E a Viradouro vai brilhar na nova era"
1 - Orfeu, O Negro do Carnaval (1998)
No topo da lista, o samba mais conhecido da escola. O Charlles já falou sobre "Orfeu" em sua coluna, mas agora é a minha vez. Tem uma letra perfeita e uma melodia emocionante. No CD o samba ficou a oitava maravilha do mundo, dá vontade de ficar repetindo umas 10 vezes. Na avenida, o samba pegou - principalmente o refrão - mas os jurados pegaram pesado demais e a vermelho e branco terminou num injusto quinto lugar. A Viradouro não venceu, mas o samba do negro Orfeu ficou para a eternidade pois teve um desempenho triunfal e conquistou o coração da plateia num desfile magistral.
"Hoje o amor está no ar
Vai conquistar seu coração
'Tristeza não tem fim, felicidade sim'
Sou Viradouro, sou paixão"
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