Só pelo título o leitor deve pensar que é um alerta para uma doença, para um golpe novo na praça ou algo similar, mas não é bem assim, é para chamar atenção para um coisa que se não é o principal, é um dos principais fatores para a vertiginosa queda de qualidade e conteúdo na televisão aberta: o perigoso domínio das igrejas na programação, principalmente aquelas que tem líderes que frequentemente nadam em rios de dinheiro, uma dessas é a Universal, o fio-condutor deste texto - talvez alguém entendeu o trocadilho do título - que, além de ser dona da Rede Record, tem espaço em pelo menos mais três emissoras de TV aberta. Se por um lado as emissoras arrecadam com tal artifício, ao mesmo tempo suas programações descem a ladeira literalmente em matéria de conteúdo.

Evidentemente não sou contra o evangelho tampouco contra quem frequenta a Universal ou quaisquer igrejas que citarei no texto, pelo contrário, sou respeitoso com todas as religiões, entretanto sejamos racionais: este domínio das igrejas endinheiradas nos canais abertos está chegando numa etapa que logo se tornará insustentável. Ok, a crise bateu na porta de todo mundo e as emissoras recorreram aos templos para ter uma grana a mais, fato, mas todos nós temos ciência do histórico ficha-suja (o mínimo que pode ser dito) que a Universal possui. Além da Record, a IURD tem direito à mais três horas na Band (durante a madrugada) além de seis horas e meia na RedeTV - espaço aumentado graças à mais uma venda de horário, no fim da tarde, numa das maiores sacanagens recentes da TV - e a fartas 22h na CNT - o que inclusive é proibido por lei, que permite o arrendamento de apenas 25% para programas deste cunho. E sabe o que pior? Não há o mínimo de fiscalização por parte do Ministério das Comunicações. As emissoras sentem-se livres e impunes para dar o máximo espaço desejado aos grandiosos templos e líderes cheios da grana, o que gera um espaço a mais para que não só Edir Macedos, como também Malafaias e Valdomiros da vida possam aumentar ainda mais o seu patrimônio.

O estopim para que eu escrevesse foi a CNT ser obrigada a reajustar a programação de 22h à 0h para o período de 21h às 23h para que fosse encaixado um programa de Edir Macedo na grade. Como disse acima, esta situação está chegando numa etapa perigosa, beirando a ficar insustentável, as leis dos meios de comunicação no Brasil precisam ser revistas e pra ontem. A presidência da república - independente de quem esteja governando - precisa sentar o rabo na cadeira e restaurar linha por linha, impedindo que a maioria dos canais sobrevivam à margem da ilegalidade. Reafirmo, não sou contra o evangelho, mas o excesso de teleculto não existe nem aqui nem em marte. O ideal seria não só o aumento da verba para as emissoras, seria importante, claro, as emissoras devem investir muito mais no conteúdo próprio, naquilo que acredita. Um choque de ordem urgente na nossa frágil comunicação para que os marajás da fé não dominem o Brasil de vez e imponham o que bem quiser, o que seria a pá de cal para a framigerada tv aberta. A solução para impedir o fundo do poço é simples, basta ter atitude.

Pelo bem daqueles que não podem desfrutar dos canais por assinatura: reage, TV aberta! Não dobre seus joelhos de vez diante dos marajás da fé.