(por Carlos Alberto)
No fim do ano passado escrevi sobre o estado de calamidade que passa a Super Rádio Tupi, cuja diretoria não paga os salários há atualmente seis meses, o décimo terceiro de 2015 e 2016 e FGTS há dois anos e meio. No mês de dezembro os funcionários cruzaram os braços três vezes (dias 8, 15 e 21, respectivamente) e, após o texto citado ir ao ar, os mesmos decidiram em assembleia fazer nova paralisação, desta vez por tempo indeterminado. Durante todo o mês de janeiro, a emissora executou apenas conteúdo musical e comerciais. No mesmo período, os sites especializados - dentre eles, o competente Rádio de Verdade - foram noticiando sobre o clima azedo que pairava na Fonseca Teles - e claro, não é pra menos. A frouxa e incompetente diretoria dos Diários Associados chegou a se reunir com os grevistas no Sindicato de Radialistas do Rio, com a cara e a coragem de apresentar propostas ridículas de parcelamento dos salários. No dia 1° de fevereiro, foi decidido pela manutenção da greve, mas três dias depois passaram por cima da decisão. Nas redes sociais, durante o período de inatividade, me deparei com muita gente dizendo "Cadê a Tupi?", "O que houve com a programação?", "Falta de respeito com o ouvinte, não dão uma satisfação", "Só toca música", "A Tupi acabou" e comentários similares, e sem quaisquer pontos à acrescentar, vamos ao que interessa, sem a intenção de ser e/ou querer ser dono da verdade.
A Tupi voltou sim, mas não é a Tupi que estávamos acostumados a ouvir. E não será mais.
E porquê? Fácil: além de ter passado por cima de uma decisão, até o momento que escrevo sequer houve acordo para pagamento dos atrasados para aqueles que não se curvaram aos patrões e decidiram continuar de braços cruzados. Os que recolocaram a rádio no ar no dia 3 são traíras que passaram por cima de companheiros que decidiram continuar de braços cruzados por respeito ao que fora decidido na assembleia, são energúmenos que só olham para o próprio umbigo, que estão cheios da grana que recebem de patrocínios e que imploraram para recolocarem a rádio no ar para não perder os mesmos. Alguns que estavam na greve, sabe-se lá por qual motivo, mudaram de ideia e se juntaram à aqueles que estão sendo chamados de "fura-greve", outros já eram contra, pelos motivos já citados - entre os que estão na lista, alguns que até admirava. Em resumo: jogaram migalhas para os pombos que, comeram e agora fazem graça.
No mar de imundice que cobre os bastidores da Fonseca Teles muito se pensava que a coisa poderia piorar... e piorou.
A frouxa e covarde diretoria da Tupi ganhou uma nova alcunha: segregadora. Como resposta aos grevistas, os imundos que comandam a emissora simplesmente demitiram os que não voltaram ao ar por "justa causa", usando a brecha da CLT. O leitor pode pensar que está confuso ou louco, mas não: cerca de 41 funcionários foram demitidos pelo simples motivo de não se curvar aos patrões e continuar lutando pelos seus direitos, e os mesmos foram comunicados da dispensa através de telegrama - entre os demitidos, estão grandes nomes do rádio como Haroldo de Andrade Jr e Fernando Sérgio, um dos que eu mais admirava e talentos como o humorista Luizinho Campos. Caramba, como entender uma sacanagem dessa natureza?
Não dá pra entender, de verdade.
Não dá pra entender uma diretoria que opta por ficar pelos seus "queridinhos" e manda embora pessoas dignas e honestas que não entraram no joguinho e pagaram o preço por não se venderem, pessoas que há meses passam necessidades e agora foram postos no olho da rua sem dó tampouco piedade. Não dá pra entender a demagogia de romeiros motivadores (se é que o leitor entenda a quem me refiro) fingindo que a emissora ainda está as mil maravilhas. Não dá pra entender que no "clube de migalhas dos Associados" fazem parte profissionais que são talentosos, além de alguns que tem folha corrida na história do rádio. Não dá pra entender. Ou melhor, é difícil de engolir.
(Abre parênteses. Para conhecimento, a palavra Segregação pode referir-se a ação de segregar, de separar, de isolar, de desunir; ato de se afastar. Fecho parênteses.)
Esta decisão arbitrária mancha para a eternidade a história de 81 anos da Tupi. Apesar de trocar meu dial antes do barco afundar de vez, ouvinte como fui, me sinto envergonhado. Perde não só a Tupi, perde também o rádio carioca (cada vez mais carente de boas opções) e brasileiro - resultado das presepadas é a vertiginosa queda de audiência - e o ouvinte que tomou conhecimento da história detalhe por detalhe deveria a meu juízo sentir-se da mesma forma. Mas há aqueles que ainda preferem acreditar na "Família Tupi" ao ser massa de manobra da hipocrisia em troca de palavras bonitinhas...
Uma coisa eu tenho certeza: no meu rádio, Tupi só quando houver futebol.
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