Em Geral: A Deusa de 70 Carnavais

Era junho de 1946.

Num quintal lá pelas bandas de Capitão Roseira, um apaixonado pelo samba organizava batucadas em que o povo "caía na gandaia". Destas batucadas, surgiu a ideia de formar uma escola de samba. O apaixonado era o seu Nelson... "Nelson de batismo, mas pode me chamar de Jangada". E sob o batismo da águia altaneira surgia o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Viradouro, abençoada pelo manto azul e rosa de Nossa Senhora Auxiliadora e pelo "dia de graça" do padroeiro São João Batista. Dois anos mais tarde o seu primeiro desfile, e logo o primeiro campeonato. Parecia predestinação. A avenida, o terreiro do mais lindo ritual, viria passar "um canto de amor e emoção" que na sua "origem e evolução" multiplicou glórias com a "Independência" que pede "graça aos orixás" e exalta o "Amor em tom maior" em um "sonho de Ylê Ifé". O azul e rosa transformou-se no pavilhão vermelho e branco que, em um aperto de mãos celebra a integração racial.

Depois de dezoito tentos locais, era hora de deixar a sua terra abençoada rumo à "novos tempos, novos ventos". E vinte anos depois novamente cruzaram a Guanabara, dessa vez em definitivo, para começar a nova "história de uma integração" que une duas cidades. Pouco a pouco foi dando as suas caras, de degrau em degrau, acesso após acesso. Até que chegou o dia... mostrando que "só vale o escrito" chegou ao grupo máximo da maior festa popular do mundo. Obrigado Dercy... ou melhor, "mercy Dercy". E sob a proteção da lua, a magia da sorte conspirava a seu favor... até as chamas consumirem um lindo desfile. Levanta-se a bandeira de um "sublime amor" por um gênio que chega... estava escrito na estrela que cintilou: a Viradouro brilhará na nova era. Os três espantos? A aquarela do ano 2000? Foi preciso um big-bang que nunca se viu, uma verdadeira explosão do universo... que explendor! o povão da arquibancada se agigantou, estava predestinado: não passaria dali. E bastou ser lida a última nota dez para concretizar o seu grande dia, para que uma cidade entrasse numa explosão de alegria. Estava em festa a aldeia Niterói, o carnaval ganhava uma nova estrela no seleto grupo de grandes vencedoras. Uma vermelha e branca que não era da capital mostrou de fato para que veio.

"Muito prazer, eu me chamo Viradouro!"

O grêmio do morro venceu e o samba do negro Orfeu sacudiu a passarela em um desfile triunfal. Falou em sacudir? Viradouro está aqui. E nesta festa popular és o melhor artista, que nesta ciranda vem pedir paz e amor para vencer os grilhões do dia a dia e um mundo de felicidade para esquecer a solidão e a agonia. Abram as cortinas para o seu mais brilhante papel, o show vai começar! Oh Virgem Santa, olhai por nós! Pois precisamos de paz! Mas porque não soltar aquele sorriso? "Arquitetando Folias", és o astro principal na apoteose, no céu, terra e mar. Mas virar o jogo é sempre bom, né? "Com muito orgulho, com muito amor" entremos nessa jogada, a sorte está lançada. Porém, nem tudo são flores, há dissabores e infelicidades... mas, e se a dor precisar de alguém? Eu sem você, sou ninguém. E a cidade "bem mais que maravilhosa" curvou-se ao cantar do orgulho de ser Niterói. Não bastasse isso, nos faz cantar a negritude, o amor, a tolerância e a igualdade. E o amanhã como será? Vamos voltar no tempo pois todo menino é um rei...

E ser viradourense? Seria pleonasmo absoluto dizer que é a melhor coisa do mundo, é bem mais do que isso: é uma dádiva, é algo sobrenatural, é sentir o samba correndo na veia quando a furacão toca aquele ritmo que incendeia. É aquele que sente saudade de fevereiro e quando pisa forte n'avenida tira forças da onde não tem. É aquele que canta, extravasa, leva fé e entra na passarela com aquela garra, aquela vontade de vencer... ah, meu amigo, é difícil de segurar. Tem que respeitar esse pavilhão... a cada ano, com determinação de ser o indomável campeão.

Hoje, nesse parabéns pra você, algumas palavras foram a singela forma que este mero apaixonado encontrou de te homenagear. Não são muitas, porém as mais sinceras. Nesta data querida, fica o desejo que vai além de muitas felicidades e muitos anos de vida, fica a esperança de que dias muito melhores possam vir e que seus próximos carnavais sejam repletos de vitórias. E que de seu povo fiel, além de ter aquele sorriso no rosto, não falte amor e respeito à este pavilhão.

Vida longa e vitoriosa a deusa de setenta carnavais!

[N.do.E. As citações em aspas são referências a enredos e sambas da agremiação. Outras citações são encontradas ao longo do texto. CA]

Imagens: Sambario e Arquivo Pessoal












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