Os Carros das Capas - Episódio Extra: As Capas do Grupo de Acesso

Como é de conhecimento do leitor, a série "Os Carros das Capas" feita em janeiro neste blog, falando sobre as alegorias - e componentes - que foram eternizados nas capas dos álbuns de samba-enredo do Rio, ganhou bastante repercussão, o que credenciou a ser reproduzida integralmente no site Sambario. A propósito, deixo aqui meu agradecimento ao editor do site Marco Maciel. Devido ao inesperado sucesso (modéstia a parte) o editor decidiu por escrever um episódio extra da série. Desta vez, irei abordar uma coisa muito mais inédita que a série: as capas dos 16 últimos álbuns do Grupo de Acesso, a atual Série A. Sem mais adendos, vamos começar.

2001



Começamos pelo primeiro ano do novo milênio. A capa de 2001 trouxe um projeto gráfico com as bandeiras das doze escolas que disputavam o acesso naquela ocasião mais a da AESCRJ. Por ordem da esquerda para direita, de cima para baixo, ou do jeito que o leitor preferir, como está na imagem: Santa Cruz, Inocentes, São Clemente, Boi da Ilha do Governador, Em Cima da Hora, a recém-rebaixada Vila Isabel, Leão de Nova Iguaçu, Unidos da Ponte, Villa Rica, Porto da Pedra (também recém-rebaixada) e Império da Tijuca. O detalhe é que as bandeiras são de verdade e não computadorizadas, e ambas foram colocadas na areia da praia para sua "sessão de fotos", digamos assim. Falando um pouquinho da safra, apesar das grandes obras de São Clemente, Ponte e Porto da Pedra, a grata surpresa foi o Orun-Ayé do Boi da Ilha, agraciado com o Estandarte de Ouro.


2002


Sambas De Enredo Carnaval 2002 Grupo A Cd

A capa do ano do penta relembrou um pouco a capa de 1997 do mesmo grupo, quando a estrela da pagina um na ocasião era ninguém menos que Viviane Araújo, só que a citação foi dupla: uma imagem de um desfile provavelmente do ano anterior "tapado" por duas passistas - quem souber o nome delas me mande um email. As mesmas estampam a contracapa, que recebem o patrocínio do jornal O Dia (curiosamente, o enredo da Estácio naquele ano) e da rádio FM O Dia, ambas do mesmo grupo midiático. Inclusive, patrocínios são muito comuns nos álbuns do acesso. Ademais, uma capa bem bonita e só.

2003




Neste ano começava aí o principal recurso usado na gestão AESCRJ, a capa sendo estampada pela campeã anterior, que naquela ocasião era a Santa Cruz, que inclusive participou do desfile das campeãs de 2002 a pedido do então prefeito César Maia. Até o fechamento do texto não consegui o nome da alegoria. Entretanto, para os livros da história, o 2003 do Grupo de Acesso ficou marcado pelo polêmico título da São Clemente, que reza a lenda, teria pago 35 mil pela sua acensão, e o fato já era de conhecimento popular desde outubro do ano anterior.

2004


Cd-sambas De Enredo 2004-acesso A-raríssimo-em Otimo Estado

A pergunta do momento é: "Como retratar um título polêmico numa capa de CD?". Sabe qual foi a solução? Colocar a escultura de um monstro que dentro tinha um cara parecido com um índio (!!!) ressalvas porque tinha a ver com o enredo... mas cá entre nós, no mínimo é bem tosco, né? Por hora, basta lembrar do selo de 70 anos da AESCRJ na capa e também da faixa bônus que era um pequeno show da bateria da Curicica, já que na época a bolacha digital do segundo grupo era gravada na quadra da agremiação. A título de curiosidade: fui presenteado com este disco por Fábio Gomes, um dos autores do samba da Cubango, que a época era meu vizinho.

2005



Era o início da melhor fase de gravação da bolacha digital do Grupo de Acesso - o formato começou no ano anterior, mas eu não achei tão boa assim. E como era de costume, a então campeã estampava a capa. Curiosamente, o projeto gráfico não mudou e, diferente de 2004, as letras da página um e o plano de fundo da contracapa ficaram totalmente azuladas para saudar a Vila campeã. Os patrocínios eram da Prefeitura do Rio (então reempossada), da loja Babado da Folia e do então ponto turístico da noite carioca, o Scala. Duas curiosidades: uma é o logo de 70 anos da AESCRJ que foi "mantido" na capa sabe lá por qual motivo, o outro é do samba da Cubango que falava do Candomblé, e que no desfile acabou sendo uma catástrofe, até porque a escola não pediu licença aos orixás e a consequência foi os carros não entrarem. Aliás, a bolacha digital de 2005 ganhou duas faixas extras: uma é o samba-exaltação em homenagem (sic) aos 70 anos da AESCRJ cantado por Rixxah e a outra é uma nova exibição da bateria Audaciosa da Curicica.

2006



Foi o ano do começo do expediente de CD duplo (em um os sambas do Grupo A, no outro os do Grupo B) a capa era o imponente abre-alas da Rocinha, não sei ao certo o nome, mas chuto que era "Mundo sem fronteiras". A excelente produção continuou a mesma, bem como os patrocínios da contracapa - aliás, a prefeitura já mostrava com orgulho que sediaria o Pan do ano seguinte. Curiosidade: das 22 faixas de ambos os CDs, tivemos OITO reedições, sendo duas no A (Tradição e Estácio) e seis no B: Ponte, Boi da Ilha (reeditando o clássico "O Amanhã" da vizinha União), Difícil é o Nome, Império da Tijuca, Inocentes (esta, reeditando "Lenda das Sereias" do Império Serrano) e Unidos de Lucas. Coincidência ou não, duas reedições acabaram campeãs: Estácio e Império da Tijuca. O destaque fica para "Flor da Idade", faixa-bônus do primeiro CD, que foi cantado por ninguém menos que Aroldo Melodia.

2007




O CD duplo do ano do Pan teve como capa a bela comissão de frente da campeã Estácio, que formava o símbolo da escola, tendo ao fundo o primeiro casal de Mestre-Sala e Porta Bandeira. Ademais, como as capas do Acesso tem certa limitação para uma explicação mais ampla, o que resta escrever é que a excelente produção do disco, o projeto gráfico (trocado em 2006) e os patrocínios continuaram os habituais. Da safra, a se destacar a Tradição, com a reedição de "Passarinho Passarola" de 1994 e o samba inédito da Cubango, que a época vivia uma excelente fase na sua ala de compositores.

2008




Nada foi mexido tanto em gráfico quanto em produção. A capa era o abre-alas "Utopia" da São Clemente (campeã - insólita - do ano anterior) que na frente trazia uma escultura de um hippie que, francamente, nos remete a lembrança daquele carro do Perlingeiro na Mocidade. Ademais, basta lembrar que a preta e amarela foi a última campeã a estampar a capa da bolacha digital, até porque a AESCRJ mal sabia que estaria administrando seu último carnaval no Acesso - o que culminaria no seu fim anos depois.

2009




Naquele ano o Grupo de Acesso estava sob nova direção. A partir dali seria comandado pela LESGA - de péssima memória, como veremos adiante - e por isso, seria inviável ter o Império Serrano, campeã de 2008, na capa do disco. Por conta do imbróglio, a nova liga optou uma solução mais caseira: a capa trouxe um projeto gráfico com os brasões das escolas em miniatura. Ademais, bons sambas e uma gravação bem interessante.

2010




Começava aí um recurso que, apesar da mudança de comando mais a frente, dura até hoje: ao invés da campeã, a vice-campeã estampa a capa e a terceira colocada vai para a contracapa, imagino que tal ideia foi aderida a fim de valorizar quem permanece no grupo, ao invés de quem sobe. Como mandava a nova regra, o desfile da Renascer de Jacarepaguá foi retratado na capa, a qual eu chamo de "campeã da permanência", e como podemos reparar, a alegoria da imagem não é o abre-alas, e sim a alegoria "Submarino". Na contracapa, a comissão de frente da Rocinha. Ademais, o Grupo A recebeu o patrocínio da Capemisa, mantendo o Babado da Folia.

2011




Neste ano, a bolacha digital do Grupo A teve como capa o bonito abre-alas "O Nilo e os Jardins Suspensos" da vice do ano anterior, a Inocentes de Belford Roxo. As curiosidades ficam por conta da gravação do disco, que mudou de quadra (da Curicica para o Salgueiro) e a "adesão" de prefeitura e governo do Rio de Janeiro como patrocínios do álbum. Ah, não posso esquecer que este disco marca a (indesejável) volta da Viradouro ao Grupo de Acesso depois de 20 carnavais...

2012




A capa de 2012 traz a quebra de um jejum, não do jeito que o escriba desejava: "graças" ao vice-campeonato do ano anterior, a Viradouro voltou a estampar uma capa de CD do carnaval do Rio após 13 anos. Podemos avistar o lindo abre-alas cujo nome não consegui encontrar (obrigado, transmissão da Band!) trazendo a frente a charmosa velha guarda da agremiação. Na contracapa, a Estácio e seu leão malandro batuqueiro cria lá do morro de São Carlos... ok, essa foi péssima! Ademais, 2012 marcou a inovação pela inclusão dos sambas-exaltação (alguns criados em cima da hora) das agremiações e a despedida pela porta dos fundos da LESGA, isto devido a controversa (para ser muuuuuuuuito generoso) vitória da Inocentes...

2013




Novos ares no Grupo de Acesso. Depois da polêmica do ano anterior e a justa morte da LESGA, surgiu a LIERJ, que repaginou a segundona carnavalesca com a fusão dos antigos grupos A e B - o que vinha sendo especulado desde o pós-carnaval de 2012 - e o novo nome: Série Ouro, que depois virou a Série A que chamamos atualmente. Quanto a capa, o lindo carro do Império Serrano - o terceiro do desfile anterior, sobre Dona Ivone Lara - cujo nome também não consegui encontrar já que a TV digamos que ignorou a alegoria (obrigado, transmissão do SBT!) mas só de levar a coroa imperial, já é um barato de se apreciar. Duas curiosidades: uma foi o fim dos patrocínios comerciais na contracapa, tendo apenas os estatais - governo, prefeitura, secretaria, etc. E da contracapa, ocupada pelo Império da Tijuca, vem a outra curiosidade: se o leitor reparar bem nas laterais, os patrocínios dos relógios (Babado da Folia e Tron) foram solenemente cobertos em computador pelo símbolo da nova entidade...

2014




No ano da copa que o brasileiro quer esquecer, mais uma vez a Viradouro foi a capa por outro vice-campeonato - parecia que a escola tinha gostado dessa sina. Desta vez, com seu maravilhoso abre-alas que... advinha? não consegui apurar o nome (obrigado, transmissão da Globo!) mas pelo menos se sabe que era do enredo sobre o Salgueiro. Pelo menos, desta vez, não foi necessário pular quatro, cinco faixas para escutar o samba da campeã após a apuração, até porque, a LIERJ foi malandra de prever na capa do seu disco quem seria a campeã daquele ano...

2015




Depois de oito anos e duas tentativas, o Leão enfim voltou a rugir na capa da bolacha digital do segundo grupo. Desta vez com o bonito abre-alas cujo nome... é "Cruzando a Guanabara" - hehe, dessa vez o escriba conseguiu o nome da alegoria. Ademais, a Série A 2015 é lembrada por uma safra pouco chamativa e o rápido retorno da Unidos de Bangu à Sapucaí após três décadas. Os patrocínios estatais permaneceram. Ah, e não custa lembrar que pelo segundo ano consecutivo a LIERJ foi malandra de prever na capa do seu disco quem seria a campeã do ano... embora que desta vez, teve um quê de polêmica.

2016



Chegando enfim ao ano vigente, o lindo e alegre desfile da Unidos de Padre Miguel, que muita gente (inclusive o escriba) considera a campeã moral de 2015, foi retratado através do lindo e colorido abre alas "Busca das Artes por Seu Cavaleiro" cuja escultura principal era a de um palhaço, numa espécie de pede-passagem para a história de Ariano Suassuna, contada neste desfile. Por fim, a última folia do Série A (pelo menos no texto) é lembrada por uma produção muito aquém do que se pedia, por um lamentável desfile da Caprichosos que ocasionou na (por enquanto) despedida ao Sambódromo e por um samba fora de série da Viradouro, derrotado por um tal boi milagreiro nordestino arretado que desceu o morro e fez a farra na casa de Thor...

Para 2017...


Lá para outubro deverá ser lançado o álbum da Série A para o evento momesco de 2017. O que se sabe por hora é que, pelo segundo ano consecutivo a UPM - outra vez vice - estampará a capa e a Viradouro (3° colocada) fará presença na contracapa - por sinal, é a primeira vez que a vermelha e branca do outro lado da Baía estará numa contracapa, não só do grupo, como também na história do carnaval. Por hora, resta aguardar enredos, safra e gravação.

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